Viagem ao Araguaia

as pneumonias, as febres paludosas, o raquitismo e idiotismo, o bócio, a sífilis, e, sobretudo, as inflamações crônicas do estômago, fígado e intestino, ou dizimam anualmente a população, ou enfraquecem-na e a enervam, de modo que, reproduzindo uma frase verdadeira e melancólica do finado Bispo, pode dizer-se "que aqui se escoa a vida, gemendo constantemente".

Para se ter ideia do estado higiênico da cidade, considere-se o dado seguinte:

Na capital, existem, termo médio, 200 praças de linha; a enfermaria militar tem, termo médio, 50 doentes.

Ora, para quem sabe que se não dá praça ao soldado sem que seja verificada sua saúde, para quem sabe a aversão que eles têm ao tratamento nas enfermarias, ficará clara toda a força deste dado.

Quanto às condições comerciais, eu não me estenderei. Basta ver o que há, para desanimar-se. Por mais desagradável que possa parecer ao leitor a proposição seguinte, eu a exaro.

O comércio aqui vive exclusivamente à custa dos empregados públicos e da força de linha. Os meios de transporte são imperfeitos, a situação da cidade, encravada entre serras, faz com que sejam péssimas e de difícil trânsito as estradas que aqui chegam. Em uma palavra, Goiás, não só não reúne as condições necessárias para uma capital, como ainda reúne muitas para ser abandonada.

Viajou por esta província o célebre médico francês, dr. Febvre. Referem-me que ele destinava demorar-se aqui alguns meses; ao cabo, porém, de certo tempo, levantou abarracamento e partiu. "Não me demoro mais aqui", disse ele, "sinto que minhas faculdades, tanto morais como físicas, vão caindo em uma apatia ameaçadora.