Viagem ao Araguaia

Estas palavras do ilustre médico exprimem uma verdade, experimentada por todos os homens que vêm de fora para aqui.

Uma apatia mortal parece dominar tudo, de modo que a mais completa indiferença reina para todas as matérias.

Será, porventura, porque o governo não é inteligente e generoso? Não! A inteligência aqui transborda em centelhas fulgurantes; faz gosto ver-se a vivacidade dos meninos; apraz analisar a aptidão extraordinária que mostram para as ciências, para as belas artes, sobretudo para a música e pintura e para os ofícios mecânicos; vê-se com admiração a rapidez com que aprendem tudo e a facilidade com que executam coisas que nunca aprenderam, somente com o auxílio de algumas ideias que se lhes dão. Mas tudo isso esteriliza-se: o clima vai exercendo pouco a pouco sua ação deletéria, de modo que fenecem ordinariamente em botão essas flores que prometiam abundantes frutos.

Não quero insistir mais sobre esta matéria; não quero que se diga que de propósito carrego as cores do painel, para torná-lo mais sombrio. Deixo as considerações que poderia fazer à consciência de quem me lê.

A população das margens do Araguaia oferece um aspecto animador: sua tez é lisa, fina e luzente; os músculos desenham-se vigorosos, em graciosas curvas, no corpo luzente do homem; o apetite, estimulado por aquele ar fino de planícies de centenas de léguas, onde sua circulação não é interrompida por um só obstáculo, exige uma nutrição abundante, que leva todos os dias ao sangue o tributo reparador das forças e que aumenta a vida.

Os próprios animais são sensíveis a esta mudança. Num dos pousos de nossa viagem (serra dos Tatus), tivemos ocasião de observar isso. Apesar de havermos