Santos e viagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas

população e ao padrão de sua distribuição, os quais por sua vez dependem das potencialidades perdidas pela resultante da ação de técnicas utilizadas para exploração do meio. Nas freguesias, por exemplo, as irmandades são as únicas estruturas formais dentro do grupo e como tais proporcionam um mecanismo de coesão e de governo da unidade social. A religião das freguesias não é um culto familiar, nem um tipo de catolicismo formal dependente de uma hierarquia oficial, nem um aglomerado de sobrevivências ou de superstições. É uma religião da comunidade que se expressa pelo culto coletivo dos santos. Quando se passa a um outro nível, o dos pequenos centros urbanos, já se observa, como em Itá, a devoção dividida entre um Santo Antônio e um São Benedito, divisão que se identifica com a linha de classes. O primeiro é o santo dos "brancos"; o último, o santo da "gente de segunda", o "advogado" dos seringueiros. Nas freguesias o culto está centralizado no santo padroeiro, e dele participa todo o grupo. Nas cidades a popularidade de santos reflete via de regra subdivisões do grupo social.

Também no ritual se observam mudanças semelhantes. Na passagem das freguesias para os centros urbanos, o ritual perde a integração de elementos, característica das freguesias, onde é organizado pelas irmandades. Nas cidades é nítida a separação dos elementos que o compõem. O repasto público e o baile perdem sua associação à novena e às rezas, transformando-se em iniciativas comerciais fora dos objetivos e do controle das irmandades. São distinguidos dentro de uma categoria profana, se opondo à parte do ritual considerada sagrada.

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