Crenças e costumes são suplantados por outros de difusão mais ampla. Instituições nacionais passam a atuar mais efetivamente sobre as regionais. Justamente com esse processo, a introdução de novas técnicas e a difusão de conhecimentos científicos através dos postos de saúde e das escolas invadem gradualmente a órbita de conhecimento e crenças mantidas pelo caboclo. Nas cidades, o povo ainda recorre aos pajés para a cura de doenças e malefícios, porém por garantia procura também o médico. Em outros casos, o caboclo vai procurar o médico premido por circunstâncias de pressão social, a exemplo da perseguição policial dos pajés que por isso abandonam as cidades para refugiar-se nas freguesias mais distantes. A pajelança na cidade é uma espécie de "último recurso" dos grupos de classe baixa, cujo maior contingente é formado por caboclos que emigram do interior para o centro urbano. O que não impede que algumas vezes seja um recurso esporádico da gente das classes economicamente mais favorecidas. A pajelança nas cidades, ao invés de constituir uma parte integral da religião, como acontece em Itá, é uma alternativa aberta aos membros de uma classe social e está dissociada e em oposição ao corpo de ideias católicas.
VII. Finalmente, a formação dessa religião cabocla não foi um simples processo de adição ou perda de instituições e padrões peculiares aos seus dois principais componentes, a religião do indígena e o catolicismo ibérico. Teve lugar um processo de aculturação, condicionado pela configuração de cada uma dessas duas culturas, bem como por fatores históricos e ecológicos. O processo de adaptação e desenvolvimento de uma religião cabocla dependeu de fatores como a estrutura das freguesias rurais. A religião está funcionalmente relacionada à estrutura social, ao nível de