Correspondência entre D.Pedro II e o Barão do Rio Branco

longo período o seu caráter sairia mais ileso da arguição de patronato, favoritismo, ou causa própria, do que de qualquer dos homens da República dias apenas depois de sua posse.

Na questão da abolição, nem por instinto, nem por impulso, por ser um conservador e não um criador, ele nunca teria feito o que fez sua filha; o que o impedia, porém, de um grande lance heroico não era o amor ao Trono, mas a convicção de que a Monarquia era necessária ao povo brasileiro, e de que abalá-la no momento de fazer uma grande reforma equivalia a inutilizar a única força que podia obstar a reação. A verdade é que a princesa só coube abreviar de três a quatro anos no máximo a liberdade da última série de escravos, ao passo que o Imperador reduziu o prazo da escravidão de séculos, que eram esses três ou quatro anos de agonia. A grandeza do sacrifício da filha aumenta em vez de diminuir refletindo-se que foi feita para poupar, não séculos, porém meses e por último até horas do cativeiro, a uma raça que já se via livre; mas isso mesmo prova os grandes resultados do Reinado do Pai.

O que, porém, será julgado o traço principal desse caráter do Príncipe é uma tolerância inquebrantável, à prova de todas as tentações e de todos os gravames pessoais, e que por todos os títulos merece o nome de magnanimidade.

O Imperador errou de certo muitas vezes ao julgar os homens, e pode-se dizer mesmo que transigiu com os vícios e as fraquezas dos partidos, escolhendo em diversas ocasiões os menos

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