Representar um papel destes durante meio século sem sinceridade, teria sido o maior dos disfarces da História, mas ainda assim provaria a superioridade moral do ator, que escolhesse uma tal caracterização. A sua personalidade, porém, foi posta à prova da ingratidão e do exílio, e mostrou-se igual a si mesma. De seus lábios ainda não partiu uma queixa contra aqueles mesmos que ele elevou para o derribarem na sua velhice, e não parece lembrar-se que tenha sido em sua terra senão um Brasileiro como os outros. Não protestou até hoje contra o 15 de Novembro, porque o Brasil não era dele, ele é que era e é do Brasil.
Para julgar esse reinado de cinquenta anos basta dizer que a Revolução não articulou contra o soberano deposto uma só queixa, e compareceu diante dele somente com desculpas. O próprio partido republicano tinha solenemente anunciado um armistício enquanto ele vivesse, e declarado guerra somente ao seu sucessor. Semelhante singularidade na história das revoluções dispensa qualquer comentário.
Depois dela, o nome do Imperador pode ser riscado pelos parvenus do despotismo, das ruas, da praças, e até dos monumentos e institutos devidos aos seus esforços e iniciativas, como o de um tirano, cuja memória se quisesse apagar.
O que há porém, de mais tocante na sorte de D. Pedro II é ter sido ale assim tratado pelo Exército, ele o único verdadeiro amigo que o Exército teve em nossa política.