A chamada revolução de 30, que de revolução só teve o nome, trouxe-nos a vantagem - uma das raras vantagens - de ter provocado, de modo indireto, um apreciável impulso cultural nos meios intelectuais brasileiros. Impulso resultante da falta de rumos e normas existentes no país, fenômeno que caracterizou o movimento subversivo vitorioso.
O Brasil se achava em franca disponibilidade, à cata de soluções para os seus problemas. E tivemos no Recife, em 1934, o 1° Congresso Afro-Brasileiro, cuja iniciativa cabe a Gilberto Freyre, seguindo-se, em 1937, o 2°, realizado na Bahia, graças, em grande parte, a Edison Carneiro. Em relação ao Congresso do Recife, que foi um empreendimento grandemente proveitoso para as pesquisas e o conhecimento do negro, teve ele em Gilberto Freyre e Ulisses Pernambucano os seus dois maiores baluartes. Quando se escrever a história dos estudos afro-brasileiros no Brasil não se poderá esquecer o vulto de Ulisses Pernambucano, psiquiatra ilustre - não há nenhum exagero em falar-se na escola do Recife que Ulisses fundou e a que deu impulso, provocando o aparecimento deste brilhante pugilo de médicos psiquiatras, como Jarbas Pernambuco, José Lucena, Di Lascio, René Ribeiro, José Carlos Cavalcanti Borges, José Otávio de Freitas Jr., Ladislau Porto, Gonçalves Fernandes, Abaeté de Medeiros - e grande estudioso de nossa realidade social, de sua patologia, de seus desajustamentos. Foi um dos primeiros a fazer, em nosso meio cultural, psiquiatria social, não sendo demais acentuar o quanto para isso contribuiu a sua amizade com Gilberto Freyre. O que foi a sua atuação para conseguir uma situação menos hostil e condições mais propícias à prática religiosa dos negros em nossa terra, ainda está na memória de todos nós. Impavidamente, mas sem jactância, resistiu