Sincretismo religioso afro-brasileiro

PREFÁCIO DO AUTOR

No meu tempo de menino, muitas vezes, passei horas inteiras sentado junto de minha bisavó materna, a senhora Antônia de Abreu e Lima Figueiredo, legítima remanescente da austera aristocracia feminina pernambucana do século passado, a escutar as histórias que me contava sobre a vida dos escravos negros. Tinha eu então meus sete a oito anos e lembro-me perfeitamente do ambiente de sua casa, lá na rua da Glória, onde sobreviviam ainda, nítidos, vestígios daquela austeridade de costumes que caracterizava a família pernambucana do século XIX. Austeridade no modo de falar, de se conduzir durante as refeições, de vestir-se, de andar, de tratar os meninos, de lidar com as quatro ou cinco negrotas, filhas de escravos. Austeridade que significava respeito e que nunca vi extremar-se em grosseria ou tirania. Austeridade que muitas vezes se adoçava em carinho, afeição e zelo, verdadeiramente maternais, quando alguma de suas molecotas adoecia.

Foi desta senhora, que viveu na segunda metade do século passado, que foi contemporânea da escravidão, que teve muitos escravos sob suas ordens, que me iniciei no conhecimento da vida do negro cativo no Brasil. Que comecei a aprender, mesmo antes que se iniciassem

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