Sincretismo religioso afro-brasileiro

a todos os entraves, e contratempos sérios sofreu quando se "descobriu" que havia influência comunista nas manifestações religiosas dos adeptos dos xangôs do Recife, pobres pretos ignorantes, a braços com Omolu e Ogum, mas que deviam ser lidos e relidos em Marx e nos doutrinadores soviéticos de nomes complicados, cheios de consoantes, e estavam, com toda a certeza, a serviço de Moscou. Litvinofs e Malenkovs de ébano deviam estar ocultos em babalorixás e pais de santos que, lá nos terreiros de Água Fria ou do Fundão, se entregavam a seus planos tenebrosos contra as instituições políticas e sociais do país.

O professor Waldemar Valente diz, neste seu trabalho, aludindo a esse período histórico que culminou com duras perseguições aos descendentes de africanos e seus cultos: "Nestes últimos tempos, e, provavelmente, depois da forte perseguição policial que sobre os xangôs se exerceu, os candomblés de caboclo foram-se tornando cada vez mais numerosos. Era mais uma maneira de escapar da pressão da polícia. Era mais um modo de disfarçar as seitas de base africana, tidas como importunas e prejudiciais à tranquilidade pública". Mais adiante reafirma: "Posteriormente, e até nossos dias, um outro fato contribuiu para incentivar e dar à obra de acomodação novos aspectos: foi a pressão que a polícia passou a exercer sobre a religião dos terreiros. A perseguição policial foi por vezes tremenda e devastadora. E a técnica mais eficiente utilizada pelos negros, pelos seus descendentes mais puros e pelos mulatos que adotavam as seitas africanas e que não tinham ainda chegado à fase de verdadeira assimilação da religião cristã, foi a do disfarce" (...) "Mesmo assim, muitos candomblés tiveram de fechar, porque o disfarce não conseguiu ludibriar inteiramente a ação da polícia. Alguns tentaram

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