Sincretismo religioso afro-brasileiro

os estudos mais sérios sobre a história do cativeiro, pelo menos em alguns de seus aspectos, que nem sempre os senhores e donos de escravos eram cruéis e desumanos. Que havia também quem os tratasse com humanidade e tolerância, embora quase todos na aparência fossem tiranos. Tiranos que mandavam, por uma falta qualquer, dar 50 chicotadas no negro, mas que antes tinham a preocupação de recomendar à filha ou à mulher que lhes pedisse reduzir para cinco ou mesmo comutar a pena, transformando-a por vezes numa simples admoestação. O que nos contam as Memórias de um Senhor de Engenho parece que se repetiu, se não muitas, pelo menos algumas vezes na vigência do regime escravocrata em Pernambuco.

Foi de minha bisavó que tive a primeira notícia sobre as seitas que os africanos trouxeram para cá. Que me veio a primeira ideia sobre a feitiçaria das religiões negras. E esse medo e essa curiosidade que nasciam do aspecto secreto e misterioso que elas pareciam envolver.

Depois, já falecida minha bisavó, - tinha eu meus dez anos, - o acidente de uma doença que me prostrou no leito, inteiramente paralítico, exatamente quando a inquietação e a curiosidade próprias da idade me exigiam mais movimento e mais atividade, fez-me conhecer outra senhora, representante também da austeridade feminina do século passado, que foi para mim um livro vivo de ensinamentos sobre a história do Recife antigo, do Recife da segunda metade do século passado e dos começos do atual. Esta senhora, que se chamava D. Maria Alexandrina Silveira Carvalho - D. Xandu, como era conhecida familiarmente - de uma bondade e de uma paciência fora do comum, amenizou-me os meses de sofrimento e de imobilidade forçada, contando-me não

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