Do escambo à escravidão. As relações econômicas de portugueses e índios na colonização do Brasil. 1500-1580

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO


No dia 22 de abril de 1500 navegava Pedro Alvares Cabral no Atlântico sul, mais de 17° abaixo do equador. Saíra de Lisboa 44 dias antes, com destino à Índia, na rota de Vasco da Gama. Mas, deixando para trás Portugal e África, navegou muito mais para oeste do que Gama. E longe no horizonte, em direção oeste, viu de encontro ao céu crepuscular uma extensa e rasteira faixa de terra dominada por um monte alto e arredondado. Descobrira o Brasil.

Embora tangido por uma tempestade à aproximação da costa, conseguiu entrar numa angra excelente, a 17° S. Ao nível das águas faiscantes e das areias resplandecentes daquela praia, estendia-se diante dele a planície coberta de mata, atravessada por um ribeirão. A terra pareceu-lhe vasta, muito boas aguadas e bons ares, e, naquela latitude, um clima tão temperado quanto o de muitas regiões de Portugal. Parecia faltarem o ouro, a prata e outros metais, mas o solo se afigurava fértil e abundante o pau-brasil, útil madeira de tinturaria. A princípio Cabral não sabia que espécie de povo vivia naquela terra. Endereçado à Índia, talvez esperasse encontrar, acompanhados de súditos, aqueles potentados orientais com os quais Gama se avistara, pois quando alguns indígenas foram conduzidos à sua presença, recebeu-os no seu navio, numa cadeira alcatifada, em vestes de gala e um pesado colar de ouro no pescoço. Mas os selvagens desnudos

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