Do escambo à escravidão. As relações econômicas de portugueses e índios na colonização do Brasil. 1500-1580

NOTA DO TRADUTOR

Abra-se ao acaso uma História do Brasil para uso das escolas. Com raras exceções, nelas se encontram repetidos conceitos depreciativos acerca do papel do índio na formação econômica do Brasil colonial. Encontramos numa História em que estudam os meninos para exame de admissão ao curso secundário: "Como os índios nada produziam que se aproveitasse ao comércio"... Mudadas as palavras, o conceito é sempre o mesmo. Se se trata de explicar o advento do tráfico de escravos negros, a fórmula é simples: como os índios, por sua indolência – os mais benévolos, ou mais nacionalistas, dizem que eram os índios irremediavelmente amantes da liberdade, portanto incapazes de se adaptarem ao trabalho –, não representassem valor econômico na produção colonial, recorreram os colonos à escravidão negra.

Esse erro monotonamente repetido foi desfeito, de passagem, pelos maiores historiadores e publicistas que se têm ocupado da formação do Brasil. De Capistrano de Abreu a Euclides da Cunha, de Perdigão Malheiro – o autor dessa pouco citada e admiravelmente documentada História da Escravidão – a Azevedo Marques, de Couto de Magalhães a Caio Prado Junior, antigos e modernos aludiram às verdadeiras causas do incremento da escravidão negra e à luta entre jesuítas e colonos pela posse do braço indígena. Alguns, como Euclides, chegaram a considerar a catequese um "eufemismo casuístico" a encobrir a verdadeira face da questão, que era o monopólio do trabalho do índio, pleiteado em luta acesa e prolongada,

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