Do escambo à escravidão. As relações econômicas de portugueses e índios na colonização do Brasil. 1500-1580

pelos jesuítas e pelos colonos. Mas nenhum dos nossos historiadores tivera até agora oportunidade de estudar, destacando-o do conjunto dos problemas da história colonial, o caso específico das relações econômicas entre os índios e os colonos portugueses, vale dizer, o papel do índio na formação econômica do Brasil colonial. Aqui e ali encontramos observações como a de Couto de Magalhães: "os índios lutaram pela unidade do Brasil... ensinaram os colonos a construírem casas, vasos de barro, diversas embarcações de rio e de mar..." Mas afirmações dessa ordem foram quase sempre levadas à conta de explosão de um indianismo sentimental, de figurino romântico.

Essa deficiência desfigura os nossos estudos históricos, dotando-os de um pecado original que é o desprezo pelo elemento indígena na formação nacional. As fontes de estudo do período colonial são constituídas, em grande parte, pelos documentos jesuíticos. Ora, ainda que os documentos jesuíticos sejam preciosos e indispensáveis à elaboração de qualquer estudo da formação nacional, não há como deixar de reconhecer que eles não são isentos de paixão partidária – e esta sua característica é mesmo a sua melhor recomendação, pois que assim refletem melhor o espírito do tempo. A luta entre o jesuíta e o colono está impressa nos documentos jesuíticos. Os jesuítas estavam interessados em evitar que o colono se apropriasse do braço indígena, porque queriam conservar esses índios aldeados em suas "reduções". O colono tinha interesse em apropriar-se do braço indígena e por isto lutava contra o jesuíta ou com ele fazia causa comum, conforme variavam as circunstâncias, sempre no interesse de obter braço nativo para seus estabelecimentos coloniais. Eis o que explica como o jesuíta procurou incutir nos contemporâneos a ideia de que o índio não servia para o trabalho, ao mesmo tempo que nas "reduções",

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