Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

"Não. Você pode agarrá-la sem susto. (A coral pode, frequentemente, ser agarrada sem que morda, embora seu veneno seja mortal). De qualquer maneira, Antônio-hu ia bater em Pinduaro com uma mboi capitã, quando ela crescesse, se acaso fosse estéril.

"Cuidado! Não lhe bata com uma jararaca, pois ela pode morder e Pinduaro morrer" - disse Chico, tendo Antônio-hu rido tanto que quase rebentou a corda da rede.

Pois Pinduaro, a filha de Wirakangupik, de nove anos, estava sendo criada por Antônio-hu para ser sua esposa. Ele estava muito contente com o fato, sendo o único inconveniente a pouca idade dela, de modo que não podiam dormir juntos. Indubitavelmente, era por isso, por se sentir muito só, que ele tanto se prendeu a Chico e a mim. Sua atitude para com Pinduaro era a de um tio benevolente, algumas vezes apreensivo, visto ela já se estar queixando de suas infidelidades. Começara naquela manhã, quando ele nos contou o sonho que tivera na noite anterior: sonhara que namorava uma mulher chamada Iro e que vivia nas margens do rio Turi, um pouco distante. Iro dizia-lhe:

"Vamos surucar na floresta!"

Antônio-hu, porém, recusara, porque, no sonho, ele tinha uma mulher adulta, em casa.

"Olhem Pinduaro" - disse Antônio-hu. - "Na certa que me baterá quando crescer, pois já me censura porque sonhei com mulheres!"

Pinduaro estava na casa de farinha com Ari. Fui até lá, a fim de a observar. A massa de mandioca, macia, meio decomposta, espremida no tipiti, expelira o suco venenoso e estava sendo peneirada a fim de remover as fibras longas e pô-la, então, no grande prato de barro, sob o qual crepitava o fogo. Pinduaro estava revolvendo tudo com um ancinho para não deixar queimar. Ao

Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil - Página 311 - Thumb Visualização
Formato
Texto