Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

ver Antônio-hu, começou a repreendê-lo com sua voz esganiçada, agora por outro motivo: no dia anterior, Saracacá havia feito farinha e ele permanecera muito tempo, revolvendo a farinha e falando com ela, tendo-lhe dado, depois, um cordão de contas pretas.

Você deu, você deu!" - gritou Pinduaro com convicção, quando Antônio-hu, olhando ao longe, resmungou que não dera.

"Deu" - volveu ela - "você vai transformar-se num sapo cururu".

E, feliz, continuou a revolver a farinha com rapidez. Era uma acusação séria, porque um homem só presenteia contas a uma mulher se dormir com ela (com exceção da própria esposa) e Pinduaro tinha razão em dizer que ele se transformaria em sapo cururu, após a morte, por haver cometido adultério. Antônio-hu voltou-se para mim, e começou longa explicação. Pinduaro, porém, não lhe deu importância, empurrando-o mesmo do caminho, a fim de colocar outra acha de lenha no fogo. - "Cururu! Cururu!" - repetia, alegremente. Sua última alusão a Antônio-hu foi para dizer que Saracacá tinha uma yahirata ramut de carapuá, isto é, um avô de uma estrela de uma vagina. Creio que era invenção sua, tal expressão.

Pinduaro continuou a brincadeira com os adultos naquela tarde. Ela e Ari sentaram no chão, perto da rede de Chico, gritando brincalhonamente - "Saracacá! Saracacá!" - censurando-lhe a ligação com ela. Ari estava, particularmente, mordaz, pois desejava um amante para ela própria e pensava que Saracacá tinha mais do que suficiente. Assim disse a Chico que mostrasse certo arrebatamento e copulasse com ela. Em seguida, cantaram as meninas algumas cançonetas inventando as palavras de cada verso, tudo a respeito de Chico e ao fato de ele só gostar de mulheres casadas, não olhando para moças,

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