Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

iria comigo ver a cidade e para gastar o salário da melhor maneira possível. (Grande parte de seu dinheiro, gastou-o ele em belos vidros de perfume e brilhantina, a que não pôde resistir. Contou-me, depois, algo envergonhado, que poderia vendê-los, a qualquer momento, pelo triplo do preço, em qualquer lugar às margens do Gurupi).

Muito a propósito para nós, Feliciano estava para descer até Viseu, outra vez. Concordou em dar-nos "carona". Chegou vogando, rio abaixo, certa tarde, numa outra lancha de Mundico Tavares, grande lancha, com dois homens nos remos, pois se havia gasto toda a gasolina.

Com Feliciano veio Dona Benedita, tagarela como sempre, e seu filho Dorico. Cansara-se da vida na serraria de Mundico e desejava mudança.

Kuashi-puru e dois outros homens da aldeia vieram ver-me partir. Paes e os tembés auxiliaram a carregar minha bagagem rio-abaixo e a pô-la na lancha.

"São estes os caboclos com quem o senhor esteve?" - perguntou Dona Benedita, usando o algo pejorativo termo pelo qual os civilizados designam os índios. Em pé, no convés da lancha enquanto nos afastávamos e derivávamos rio-abaixo, olhei-os, com simpatia, e abanei. Ai de mim! Comparados com Dorico em sua nova camisa e calças cinzentas, não pareciam, em absoluto, decentemente trajados. Nem eu o estava, pensei confortado.

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