militar, ou pelo menos a neutralidade dos cantões mananciais de mercenários. Nessas condições, fatalmente seria contida pelo tempo a ambição dos competidores do luso monopólio na América.
O plano inspirado pelo conhecimento da situação política a espírito agudo, familiarizado com o meio e avisado por inúmeros canais, não tardou a se evidenciar procedente. Para melhor aproveitar a oportunidade, aconselhava ainda Diogo de Gouveia a fundação de povoados no litoral brasileiro, na zona mais procurada por contrabandistas, expediente que os afastaria da colônia melhor do que tentativas de intimidação, sempre de escasso efeito contra adversário animoso e possuidor de vastos recursos. Entrados povoadores lusos em entendimento com tribos locais, dirigidos por feitores em tranqueiras fortificadas, a exemplo do que se praticara na África e na Índia, não só se dificultaria a atividade dos franceses, como se ofereceria decisiva contribuição em víveres e mais socorros a naus portuguesas da carreira do Oriente, ou mandadas ao Brasil para garantir a posse de Portugal.
No descrever o projeto entrava Gouveia em pormenores, a sugerir fossem elevadas essas feitorias em número de sete ou oito em pontos bem escondidos, "para defender aos da terra, que nam vendam brasill a ninguem", providência do melhor quilate colonialista muito do agrado dos orientadores da Casa da Índia, espécie de ministério ou repartição magna encarregada dos negócios ultramarinos. Assim desanimariam os interlopos (ou "entrelopos" como aos contrabandistas chamavam os portugueses), pois "o não vendendo as naos não hão de querer la ir pera virem da la (as naus) vazias", medidas semelhantes às da polícia quando persegue receptadores a fim de por meios indiretos diminuir atentados contra a propriedade alheia.