A conquista da Paraíba

O acaso mais uma vez ia beneficiar as sugestões. No momento em que de Santa Bárbara escrevia o Magnífico Reitor a S. A. despontava do outro lado do Atlântico um pugilo de náufragos, desertores, aventureiros e degredados, que preparava a vinda dos pretensos donos da terra, exatamente nos pontos mais favoráveis para servirem de cabeça de ponte na imensidão brasílica. Não podia sonhar o Conselho de S. A. melhor auxílio a tantas léguas da metrópole onde escasseavam meios para executar planos imperialistas. Enquanto isso, aumentavam as aperturas do Tesouro luso, decrescia o número de homens válidos à disposição da Casa da Índia para manter através da navegação a sua prosperidade, tornada cada vez mais exigente de vidas humanas, assim como parecia alarmante a balança financeira do reino, ao contrário do que sucedia com os adversários nos portos normandos. Em Honfleur, Ruão ou Dieppe, a colaboração de Angô e sindicato com os fuorusciti florentinos, técnicos em comércio e navegação, em que se destacavam Rucellai e Verrazzano, perfaziam meios de competição em extremo perigoso para el-Rei de Portugal.

Urgia, portanto, distrair Angô pelo mais longo espaço possível visto mostrar-se o chefe do sindicato escassamente entibiado pelas bombardas lusas, disposto a enfrentá-las onde estivessem, em terra ou no mar, na Europa ou na América. Dispusesse Francisco I de um pouco mais de descortino político, de modo a abandonar despropositados projetos na Itália, a favor de outros de realização mais fácil e imediata, estaria para todo sempre perdida a América para os portugueses. Turbado pelas flutuações da política régia, enfraquecido pelos apelos financeiros do Valois, prejudicado pela situação caótica da França dessangrada por guerras intermináveis, Angô sozinho não podia prosseguir na luta

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