A conquista da Paraíba

dificilmente hoje concebemos. Não dispusesse a coroa desse prodigioso auxílio, sequer esboçaria a conquista da imensidade colonial que veio a possuir. Jamais na história dos povos de Ocidente presenciamos fato semelhante, em que se poderia vislumbrar laivos de fanatismo conquistador e religioso árabe imiscuído no espírito do homem ibérico.

Empresa alguma no gênero da impelida pelo gênio do Infante D. Henrique em Sagres seria levada a cabo desprovida de semelhante contribuição psíquica. Encontrava nela o governo português a força necessária à realização dos desmedidos planos que alimentava em condições das mais adversas. O navegante de casca de noz, sem higiene, alimentado por víveres em decomposição, às voltas durante meses com moléstias infecciosas, tempestades ou calmarias ainda mais temíveis, constantemente entre o perigo de se afogar ou morrer de sede no oceano, ou o povoador em meio da selva e de canibais, desfeito por febres, devorado por insetos, eram mantidos acima de desânimo e desesperação mais pela fé que os animava que ambição a dominar alguns. Chegaram a ponto de preferir, depois de em contato com conterrâneos e a metrópole, continuar onde estavam, no ermo americano, a voltar para o lugarejo natal, entre a sua gente, prazeres e tradições. O maior sacrifício para o povoador era a falta de socorros espirituais na vida cotidiana, e, acima de tudo, na hora da morte. Ao surgir um eclesiástico no seu povoado, considerava-se satisfeito, mais jubiloso na presença da Igreja, ainda representada por modestos frades ou clérigos de missa, quase analfabetos e de mentalidade campesina, do que de fartos meios materiais, posto deles muito necessitasse.

Da análise das duas maiores contribuições ao estudo do passado brasileiro, a saber, a crônica das ordens missionárias e os registros do Santo Ofício, ressaltam a

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