A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial

da Índia, numa ocasião em que não desejavam particularmente tal coisa (Ericeira em 1740 e Assumar em 1744). "Eu tenho medo desta gente mais que do Maratá" - escrevia o Rei, referindo-se aos dois Ericeiras, em 1740, quando os invasores hindus estavam levando tudo pela frente na Índia portuguesa, e, em palavras que antecipavam o comentário do Duque de Wellington sobre alguns de seus generais: "Não sei que efeito terão eles sobre o inimigo, mas por Deus, a mim fazem medo".

Assumar alegou pobreza e dificuldade de atender às necessidades de sua grande família quando foi nomeado vice-rei em sucessão do quinto Conde de Ericeira, em 1744, mas Dom João V dourou a pílula, fazendo-o Marquês de Castelo Novo, às vésperas de sua partida. Seus seis anos de vice-reinado (1744-1750) constituíram um dos poucos interlúdios brilhantes na história infeliz da Ásia portuguesa do século XVIII, e tanto seu talento militar como o administrativo foram amplamente reconhecidos na ocasião e relembrados com gratidão por muito tempo depois. Por outro lado, foi também acusado de ter enriquecido ilegalmente, vendendo cargos da Coroa e comerciando através de terceiros. Essas alegações, justificadas ou não, custaram-lhe severa reprimenda por parte da Coroa, no mesmo ano em que seu marquesado de Castelo Novo foi mudado para o de Alorna, a fim de comemorar sua captura da cidadela Maratá desse nome, em maio de 1746.

Depois de seu regresso a Lisboa em 1751, não tornou a ser colocado em alto cargo oficial, embora prestasse serviços úteis por ocasião do grande terremoto de 1755. Algumas autoridades atribuem-lhe o famoso comentário feito no dia daquela catástrofe sem precedentes, e que se leva, habitualmente, ao crédito de Pombal: "Enterrar os mortos, socorrer os vivos, e fechar as portas". Era a resposta à indagação que o desarvorado Rei lançava aos que o rodeavam quanto ao que se deveria fazer. Sua semidesgraça foi, indubitavelmente, devida à inimizade de Pombal, que já possuía influência suficiente sobre o novo rei, Dom José I, a ponto de induzir aquele monarca a recusar audiência ao vice-rei enquanto ele não esclarecesse as acusações de corrupção que pesavam sobre sua pessoa. Pombal conseguiu que Dom Pedro de Almeida não tivesse oportunidade de dar desmentido judicial a tais acusações, e ele veio a morrer, desgostoso, em 1756. Seu filho e herdeiro, que esteve aprisionado durante dezoito anos nas masmorras subterrâneas de Junqueira, sob a acusação inventada de estar envolvido no alegado conluio de seus parentes por afinidade, os Távoras, contra a vida do Rei, tentou, inutilmente, depois de obter uma liberdade tardia, conseguir investigação judicial que limpasse o nome de seu pai.

Os brasileiros que ainda execram a memória do terceiro Conde de Assumar, por ter abafado a revolta de Vila Rica em 1720, talvez se sintam intrigados ao saber que 24 anos depois ele denunciava publicamente, em Goa, as antigas crueldades e desacertos portugueses na Ásia, em termos que traziam forte sabor dos sentimentos anticolonialistas do Iluminismo.

MANUEL NUNES VIANA, depois de sua estreia na chamada "Guerra dos Emboabas", descrita no capítulo III deste trabalho, retirou-se para suas vastas

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