propriedades no vale do Rio São Francisco, onde ocupava o posto de capitão-mor da região. Segundo seus amigos, ele era uma grande influência civilizadora ali, e limpou o distrito dos malfeitores, porém, na voz de seus inimigos, era o pior de todos os inescrupulosos poderosos do sertão. A primeira opinião foi propagada pelo vice-rei da Bahia, o Marquês de Angeja, que se correspondia com ele, às vezes amistosamente, às vezes em termos quase lisonjeiros, e que assegurava à Coroa a lealdade e a integridade de Viana. O ponto de vista desfavorável era mantido pelo Conde de Assumar, que denunciou Manuel Nunes Viana em termos abusivos - "Nam sahio do inferno mayor peste, nem Deos deo aos certoens do Brazil mayor castigo". A Coroa e os conselheiros ultramarinos vacilavam entre pontos de vistas tão diametralmente opostos, como não deixava de ser natural, e durante muito tempo sentiam-se hesitantes quanto à maneira de tratar aquele homem. Em meados de abril de 1717, o Rei ordenou, finalmente, ao vice-rei da Bahia, que mandasse Nunes Viana de volta a Lisboa pela próxima frota, mas o vice-rei dificilmente poderia dar seguimento a tal ordem, pois que em outubro de 1718 o culpado assumiu um compromisso formal com o Conde de Assumar, em Vila Rica, de não interferir com o suprimento de gado ao longo do caminho do São Francisco para Minas Gerais, coisa de que fora (injustamente, segundo ele) acusado. Em 1724 vamos encontrar Nunes Viana solicitando licença para regressar a Portugal, com o objetivo de colocar algumas de suas filhas num convento de Santarém. A Coroa acedeu a esse pedido, depois de alguma hesitação, em fevereiro de 1725, mas, nesse entrementes, Pedro Leolino Mariz conseguia prendê-lo e mandá-lo para a Bahia, onde o vice-rei Conde de Sabugosa deu-lhe a cidade de Salvador como prisão aberta. No dia 28 de julho de 1725, Nuno Marques Pereira endereçava-lhe para ali a dedicatória do Compêndio Narrativo do Peregrino na América, que foi publicado em Lisboa três anos depois, provavelmente a expensas de Viana. Não está claro se ele chegou a voltar a Portugal, mas, conforme está contado no texto, ganhou sua causa junto a Corte, ao que se alegou através da interferência do Infante Dom Francisco, o irmão bode expiatório de Dom João V. Foi-lhe dado, posteriormente, reconhecimento oficial pelos reais ou alegados serviços prestados no passado à Coroa, tais distinções incluindo a dignidade de cavaleiro da Ordem de Cristo, o título de coronel da milícia e a alcaidaria-mor de Maragogipe. Voltou à Bahia (dado o caso de ter dela saído) em meados de junho de 1730, e estava, então, evidentemente, nas boas graças do vice-rei. Sua morte é apontada em datas diferentes, em 1735 (Calmon) e em 1738 (Golgher), mas nem sequer a data aproximada de seu nascimento ficou esclarecida. Deixou sete filhos, todos ilegítimos, e dizem que em seus últimos anos tornou-se excessivamente obeso. Velha tradição da Bahia diz que ele atirava escravos desobedientes, e outras pessoas que o ofendiam, num lago de sua fazenda, onde eram despedaçados pelas piranhas, o peixe carnívoro que é dos ricos maiores dos rios brasileiros.
As provas em relação a Manuel Nunes Viana são tão conflituosas que maiores e mais extensas pesquisas se fazem necessárias antes que se possa