fazer uma avaliação satisfatória de sua vida e influência, embora seja óbvio ter sido ele uma das figuras maiores da Bahia e de Minas Gerais durante a sua existência. Sua assinatura em 1717 é a de um homem mal alfabetizado, mas mesmo o Conde de Assumar admitiu que ele tinha pretensões à cultura. Era o orgulhoso possuidor de Mystica Ciudad de Dios, de Soror Maria Agreda (1685), de Las Guerras Civiles de Granada, de Ginés Pérez de Hita (1595-1619), e de Portugal Restaurado, do Conde de Ericeira (1710), e de outros livros que não se esperaria encontrar nos remotos sertões do Brasil. Além de patrocinar a publicação do Compêndio Narrativo do Peregrino na América, em 1728, Nunes Viana também subsidiou o terceiro volume da edição parcial das Décadas de Diogo do Couto, impressa em 1736, a julgar pela dedicatória do editor ao seu mecenas luso-brasileiro.
JOÃO DA MAIA DA GAMA. Nascido em Aveiro, em 1673, estudou filosofia na Universidade de Coimbra, mas saiu sem terminar o curso, a fim de alistar-se na tripulação do capitânia destinado a Índia, do jovem vice-rei Conde de Vila Verde, que deixou Tejo em março de 1692. A viagem foi desastrosa, com doenças, temporais e uma parada forçada na insalubre Ilha de Moçambique, dizimando passageiros e tripulação de tal maneira que quando o Nossa Senhora da Conceição finalmente alcançou Goa, em guindola, no dia 26 de maio de 1693, apenas 84 do grupo original de 580 almas ainda se conservavam vivas. João de Maia da Gama tinha prestado excelentes serviços durante a viagem, embora sofrendo como todos os outros de escorbuto e de febre particularmente quando de um furacão no Oceano Índico, na noite de 14 para 15 de maio de 1693, que desmastreou o navio. Prostrado pela doença durante meses a fio, depois de sua chegada a Goa, sua primeira ação militar foi numa luta com um navio inglês, durante o cruzeiro ao longo da costa de Kanara, em agosto de 1694. Em janeiro do ano seguinte embarcou numa esquadra que o vice-rei conduzia rumo norte, e tomou parte proeminente na destruição de três fragatas árabes (omanis) ao largo de Rajapor, recebendo dois ferimentos de balas nessa refrega. Durante a maior parte dos dois anos que se seguiram ele serviu no Golfo Pérsico, distinguindo-se na derrota de outra esquadra omani, ao largo do Cabo Ras-al-Hadd, no dia 13 de maio de 1697 e na defesa da feitoria portuguesa de Bandar Kung, que foi atacada pelo Cã de Lara, em julho do mesmo ano. Nessa última ocasião ficou ele seriamente ferido por uma bala de bacamarte que lhe atravessou o flanco esquerdo, arruinando-lhe os rins e causando-lhe prejuízos dos quais jamais chegou a refazer-se de todo durante todo o resto de sua vida. Quando ainda ia convalescendo, lenta e penosamente, apresentou-se como voluntário para sair com a expedição de socorro que ia para Mombaça, então cercada pelos árabes de Oman, que vieram a tomar o lugar, no dia 13 de dezembro de 1698. O vice-rei, porém, rejeitou seu oferecimento, apoiado no laudo médico, e insistiu em que embarcasse com ele para Portugal, no grande navio São Pedro Gonçalves. O Conde de Vila Verde era, evidentemente, algo assim como um Jonas, pois sua viagem de retorno foi quase tão difícil como a