A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial

"não havendo diferença entre negros e mercadorias"(13) Nota do Autor. Os preços que alcançavam variavam, naturalmente, de acordo com a idade, sexo, condições físicas e uso que deles se pretendesse fazer. O fado dos que eram usados no serviço doméstico deve ser bastante familiar para os leitores de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, mas algumas palavras podem ser ditas, aqui, a propósito da vida cotidiana da maior parte, destinada a trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar, que formava a base da economia brasileira(14) Nota do Autor.

Na época da safra, e quando os engenhos estavam moendo a cana, o trabalho num canavial fazia-se muitas vezes durante todo o giro do relógio. Quando assim não era, durava, pelo menos, da aurora ao escurecer. Durante o inverno, ou na temporada das chuvas, as horas de trabalho não eram tão longas, e os lavradores mais considerados não obrigavam seus escravos ao serviço senão depois que o sol se levantava e os homens já haviam recebido "sua raçam de escumas ou mel quando a ouver". Aos domingos, e nos dias santos principais, estava entendido que os escravos deveriam ficar livres para cuidar de seu próprio lote de terra, depois de terem ouvido missa. Alguns lavradores fugiam a essa concessão toda a vez que lhes era possível, mas outros estendiam-na aos sábados, durante o inverno quando os engenhos não funcionavam. A principal alimentação dos escravos consistia em mandioca e legumes. Tanto carne como peixe representavam luxo para eles. Estabelecera-se que todos os escravos deveriam receber rudimentos de instrução religiosa por parte do capelão local, confessar-se uma vez por ano e fazer batizar todos os recém-nascidos. Em algumas lavouras, nos dias de festas solenes ou santificados, os escravos tinham permissão, eram, mesmo, encorajados a entregar-se a suas danças e músicas tribais africanas. Tais práticas, entretanto, não eram vistas com bons olhos pelo clero mais rígido, e, de vez em quando, proibiam-nas. O feitor da fazenda devia inspecionar as senzalas diariamente, a fim de se assegurar de que tudo se mantinha limpo e em ordem, tirando de lá para fora os que se fingiam doentes, requisitando tratamento médico para os que realmente

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