A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial

lhe ordenava que fizesse um inquérito quanto ao alegado tratamento desumano que recebiam os escravos no Brasil. Se essas alegações fossem justificadas, o governador-geral deveria reprimir tais atrocidades "...pelos meyos mais prudentes e efficazes; procurando que estes não cauzem alvoroço nos povos, e que se consiga o fim que se pretende sem ruido ou alteração dos mesmos escravos". As mais altas autoridades eclesiásticas também denunciavam, repetidamente, os maus-tratos sadísticos de que eram vítimas os escravos, mas, a julgar pela frequência com que insistiam em tais admoestações, não parece que elas tenham recebido a devida atenção. O Brasil continuava a ser, amplamente, um "inferno dos negros"(17) Nota do Autor.

A afirmação de ser o Brasil um "Purgatório dos Brancos" era verdade principalmente para cortesãos educados como Dom Francisco Manuel de Mello, que empregou a frase, dando-lhe todo o seu significado, depois de ter sido degredado para ali. Para a maior parte dos seus patrícios ali estava, ao contrário, uma terra de promissão, e, em muitos casos, de realização. Os inebriantes "fumos da Índia" já não exerciam as atrações de uma época passada e de uma geração que conhecera a "Goa Dourada" em seu apogeu. A maioria dos portugueses que se destinavam ao Oriente quando já ia avançando o século XVII faziam-no como soldados forçados ou como degredados. O Brasil teve sua cota de ambas as categorias, também, mas, em maioria, seus imigrantes eram exilados voluntários, embora empobrecidos, à procura de melhor vida e de um novo lar.

Conforme escreveu Gaspar Dias Ferreira, em 1645: "Portugal não tem outra região mais fértil, mais próxima, nem mais frequentada, bem como não encontram seus vassalos melhor e mais seguro refúgio do que no Brasil. O português atingido por qualquer infortúnio para lá emigra"(18) Nota do Autor. A emigração vinda de Portugal aumentou, naturalmente, ainda mais, depois da recuperação de Pernambuco, ao fim da guerra holandesa, e, embora fosse o Brasil afetado pela depressão econômica dos últimos anos da década iniciada em 1670, uma testemunha ocular da Bahia conta que todos os navios chegados do Porto e das ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores traziam, pelo menos, oitenta camponeses

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