Novas páginas de História do Brasil

autor, e ainda noutros variadíssimos documentos e cartas dos jesuítas do Brasil, a começar em 1549, e de que a maior parte dos escritores modernos estrangeiros (mesmo da Companhia de Jesus) têm conhecimento mais que imperfeito. Na verdade, dizer que os homens são todos iguais por natureza está em todos os sermonários do tempo; defendê-los dos maus tratos dos senhores é lugar comum de todos os documentos do Brasil que se referem a pretos, variando apenas a intensidade ou beleza da expressão (e nisto o grande mestre é Vieira); tratar da salvação das almas é o fim mesmo de todas as missões cristãs; e, para a facilitar, escreveu o Pe. Pero Dias, "Apóstolo dos Negros" no Brasil, a Arte da Língua de Angola...

Levaria longe dar a toda esta e mais documentação, referente a negros no Brasil, o endereço bibliográfico, muito em desproporção com o ponto que aqui interessa, e muitas vezes vem à balha, que é o modo de proceder da Companhia de Jesus com o índio e com o negro.

Como se sabe, do mesmo modo que todas as entidades de relevo, que tinham grandes obras e muita gente a sustentar, campos para lavrar e engenhos para moer, também a Companhia possuía escravos, tanto índios como pretos. Era um postulado do regime agrário da América e das condições econômico-sociais daquele tempo no Brasil. No entanto, aparecem inúmeros documentos, em que os Padres do Brasil defendem a liberdade do índio, e não idênticos documentos para defender a liberdade do negro. Por quê? A resposta não pode recair sobre a escravatura em si mesma, universalmente admitida; recai sobre o título dos escravos, que poderia ser justo ou injusto, segundo as normas estabelecidas no Direito vigente. Ora os títulos dos índios conheciam-nos os jesuítas no Brasil, pois tinham diante dos olhos os casos particulares; quanto aos pretos de África, não podiam conhecer de maneira certa os casos particulares, porque já chegavam ao Brasil escravos.

O que não quer dizer que também não tivesse existido no Brasil quem defendesse a liberdade do negro. O Pe. Sandoval, do século XVII, em Cartagena, não terá padecido maiores escrúpulos que os Padres Miguel Garcia e Gonçalo Leite, na Bahia do século XVI. Os dois Padres do Brasil, um professor de Teologia, outro de Filosofia, foram mandados voltar à Europa, porque se recusaram a confessar quem possuísse escravos,

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