Uma comunidade amazônica: o estudo do homem nos trópicos

oriunda da borracha. A nova aristocracia, os barões da borracha, só se interessavam em manter a exportação de produtos extrativos e se contentavam em conservar o velho sistema nativo de cultivo do solo. Achavam mais barato utilizar a mão de obra humana do que introduzir novas práticas que a poupassem. Acharam mais fácil educar seus filhos no estrangeiro do que fundar estabelecimentos de educação no país. Procuravam meios para seu conforto e divertimentos no Rio de Janeiro, em Paris e Lisboa, em lugar de criá-los em sua terra. Não fixaram raízes na Amazônia que consideravam uma moradia temporária em que podiam acumular riquezas que lhes permitissem estabelecer-se alhures.

Depois do colapso da borracha, mudaram-se muitos desses "aristocratas" da região; vários outros, entretanto, ali estavam amarrados e foram obrigados a viver da melhor maneira possível. Permanecia o sistema de classes grandemente cristalizado, bem como a predominância de uma economia extrativa para produção de matérias-primas para os mercados estrangeiros. Castanhas-do-pará, azeite de dendê, óleos de pau-rosa e outros produtos florestais suplantaram a borracha. Assim como o escravo indígena era o último degrau na escala hierárquica da sociedade colonial, o caboclo rural é, hoje em dia, desprezado pelos descendentes da aristocracia colonial e dos barões da borracha e até mesmo pela crescente classe urbana. Tanto os citadinos cultos, como a classe comerciária das pequenas cidades amazônicas, empregam o termo "caboclo" para designar os lavradores e seringueiros analfabetos e semianalfabetos das zonas rurais. Permaneceu em toda a região um sistema rígido de discriminação de classes que se baseia em critérios econômicos, familiares e educacionais. O Vale Amazônico continua a ser uma

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