Hiléia Amazônica

Sem o conhecimento do livro de William Edwards, A VOYAGE UP THE RIVER AMAZON, é quase certo que Alfred Wallace e Henry Bates jamais tivessem viajado pelo rio-mar. Por seu turno, confessa o autor que da leitura do INFERNO VERDE, de Alberto Rangel, foi que lhe veio, desde a mocidade, um particular interesse pelas coisas da Amazônia.

Ainda que não se busque qualquer paralelo entre esses dois casos, pois que, no primeiro, de um livro hoje quase esquecido resultaram obras de considerável alcance para a ciência; e, no segundo, ao contrário, páginas cheias de vigor e colorido minguaram em observações e notas de um meticuloso e dessaborido objetivismo, - quem sabe lá se, nessa alternância de consequências propícias e ingratas, desta mesma HILEIA não advirá nova messe copiosa e dourada?

De qualquer maneira, se outra valia não tiverem, estas páginas respondem aqueles que supuseram o autor desapontado ante a Amazônia que os seus olhos viram, em comparação com aquela outra por ele anteriormente imaginada, e que lhe serviu de cenário a um romance.

Nada disso aconteceu.

A Amazônia é pródiga de coisas belas, conforme o atestam as estampas aqui reunidas, sendo que, se houve dificuldade em organizá-las, nos limites de uma pequena mostra, o embaraço esteve sempre nas preferências de escolha entre material que nunca pecou pela carência.

Apenas, dada a vastidão da sua área, tudo na Hileia há de ser visto a seu tempo e nos seus lugares, e aí tanto a flora como a fauna, ora serão mais ricas, ora mais pobres, consoante as condições mesológicas.

Se a vitória-régia é endêmica na região e, por vezes, com as suas folhas monstruosas e suas esplêndidas flores, cobre a superfície de extensos lagos, poderá continuar desconhecida para aqueles que percorram, apenas, a calha dos grandes rios. Ninguém nega que o galo-da-serra é da Amazônia, mas quem o quiser apreciar em plena liberdade, aquecendo a paisagem com a flamância das suas penas, quase sempre terá de subir o rio Negro e seus afluentes. Em certas épocas do ano, as garças, em revoada, formam espessas nuvens sobre o lago Arari, em Marajó. Entretanto, viajando pelo Cuminá, durante quatro meses a fio, o autor observou

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