Isso permitiu o aparecimento de mestiços que foram subindo gradualmente a escala social. Os negros em geral ainda ocupam os estágios econômicos mais pobres. E por isso, o seu status social ainda é inferior. Não há, porém, preconceito de raça, no sentido norte-americano, por exemplo, mas um preconceito que é antes de classe. A estrutura social brasileira não é baseada, portanto, no sistema de casta e daí aquele provérbio popular que Pierson colheu como o mais característico do fenômeno brasileiro: "Um negro rico é um branco, e um branco pobre é um negro".
Estas conclusões podem ser comparadas com as do professor negro Franklin Frazier, chefe do Departamento de Sociologia da Howard University, que também nos visitou recentemente, e que verificou a existência de um "preconceito de cor" que deveria ser distinto do "preconceito de raça".(1) Nota do Autor É um assunto aberto à discussão se este preconceito ligado à cor negra mais carregada coincide ou não com o status social e econômico mais baixo, o que as pesquisas de Pierson nos levam a admitir. Em outras palavras: o negro de cor mais escura parece ser o que emergiu mais recentemente da escravidão e por isso ocupa ainda os degraus mais baixos da vida econômica e social, sofrendo com mais intensidade o preconceito de classe. O "preconceito de cor", a que alude Frazier, reduzir-se-ia assim, também, a um preconceito de classe, no sentido de Pierson.
Nestas simples páginas de apresentação deste livro aos leitores brasileiros, não se comporta um exame detido do seu mérito, das teses tão fecundas em resultados para a compreensão do problema das relações de raça no Brasil;