lhe conferiam num meio rústico, os conhecimentos universitários e o seu alto posto na Igreja. Não é menor o orgulho do intelectual que o nobiliárquico em regiões antigas, ou o do argentário em países novos, e podemos imaginar qual seria o do Bispo; da espécie do Abade que se defrontou com Hordle John; e que se ia medir com os Costas palacianos, amparados pela amizade real. O Bispo do Brasil era virtuoso, mas afligido de temperamento exaltado, e do veso de corrigir meio mundo, comum dos que procuram oportunidades para irritar e se irritarem. Não tirava a palavra excomunhão dos lábios, e na Bahia era o avantesma do seu pecaminoso rebanho, que apavorava sem muito discernimento, perseguindo aos desafetos com terríveis ameaças a respeito da perdição futura, mais multas e penitências que sobre eles atirava, enquanto fechava os olhos sobre os deslizes dos que por cálculo ou fraqueza o lisonjeavam. Não se arreceava em fazer inimigos, e depois de feitos em enfrentá-los, mesquinhos ou poderosos, num exagero extravagante de catador de nugas e inconsciente semeador de discórdias. Em uma palavra, mostrava-se D. Pero Fernandes possuído do zelo sectário que se nota nos apóstolos e nos gângsters, indulgentes para os seus sequazes, implacáveis para os que deles discordam nas boas como nas más resoluções.
Era de admirar tal defeito em sexagenário, eclesiástico de condição, estudioso por índole, e de qualquer maneira mais levado a atitudes pacíficas que a embates violentos. Ao chegar na sua diocese nas vésperas de S. João, no ano de 1552, nada indicava o tormentoso triênio que passaria em luta constante com as demais autoridades civis, eclesiásticas e militares. A sua estada na Índia como vigário-geral devia lhe ter dilatado a experiência nas regiões ultramarinas.