A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 2º

intransigente quanto às penas, "que põe e leva em terra tam nova e pobre", segundo escrevia com carradas de razão D. Duarte a Portugal em 1555, narrando o malogro da tentativa. Pôde apenas repreender publicamente o fautor da desordem, que se lhe tornou inimigo implacável, desandando em aliciar a todos que se julgavam agravados pela sua administração.

No dia de Todos os Santos, efeméride particularmente cara aos baianos, exprobrou D. Pero Fernandes, com simulada estranheza, a depravação reinante na cidade depois da partida de Tomé de Sousa. Aludiu aos cataclismas que Deus mandava aos povos para castigo de adultério, como sucedera a Sodoma e Gomorra, numa alusão transparente ao filho do Governador, ao qual se atribuíam certas conquistas amorosas. Fácil imaginar o escarcéu levantado pelo mexerico que se espraiou na cidade, arredores e capitanias, em torno da sensacional revelação. Aproveitaram a oportunidade todos os que responsabilizavam o Governador pelos castigos que tinham sofrido do ouvidor Pero Borges. O rigor daquele funcionário, pouco propenso à indulgência, amargurado como estava pelo desgosto que sofrera em Évora, foi na conjuntura precioso auxiliar do Bispo, pois não havia de desprezar a solidariedade oferecida pelos inimigos dos seus adversários na luta inglória em que se empenhara. Verificava-se desse modo, na colônia, uma transposição das lutas deflagradas na metrópole onde havia casas fidalgas rivais, a tresandar velhos preconceitos constantes nas cenas provincianas do Amor de Perdição. A singela história dos Montechi e Capuletti portugueses, foi sugerida ao romancista por fatos reais com que reconstituiu, mais alguma fantasia, as discórdias principiadas por vaidades feridas em recâmaras, para terminar em conflitos na praça pública. A desordem

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