agasalhei em minha casa e com minha fazenda lhe socorri a sua pobreza pera se poder ir para o Espírito Santo e o Bispo (à guisa de conforto) o agasalhou com dizer no pulpito cousas dele tão descorteses estando ele presente que o puseram em condição de se perder do que eu o desviei e hei vergonha de o declarar o que lhe disse". Além da afronta se ajuntava a proibição de fumar, a pretexto de que era rito gentílico, sacrifício intolerável para o donatário, "sem o qual não tem vida", pelo que dizia.
Parece estranho como questão tão frívola pudesse causar tanto distúrbio, mandando o Bispo que desnudassem da cintura para cima um fumante e assim o expusessem na Sé com rolos de fumo presos ao pescoço. Não admitia o vício, dos mais inocentes, posto que nocivo à saúde, justamente lado que o catão desconhecia. Supunha ele, fosse mais remédio do que distração, e os seus destemperos só podem ser atribuídos ao gênio atrabiliário que o afligia. Acrescentava o Governador, que condenara à mesma pena outro indivíduo da cidade, o qual para evitar o aviltante castigo, se refugiara entre o gentio de Tutiapara, que o matara. A culpa recaía, portanto, sobre o Bispo, assim como as consequências da guerra que o sucesso podia acarretar. Abusava também do segredo confessional, mandando que os seus clérigos indagassem se alguém porventura testemunhara contra ele no secular, e ameaçava excomungar igualmente ao Dr. Pero Borges por não comparecer às suas pregações.
A despeito do caráter espinhento do Bispo, reunira este em torno de si grupo numeroso, em que havia pessoas das mais qualificadas da colônia. Entre elas figuravam António Cardoso de Barros, antigo donatário do Piauí, homem infeliz em negócios, amargurado