duma guerra que lhe distendesse os músculos impacientes de luta. Só se lembrava da pátria nas eleições e nas guerras. Daí a primeira recordar a segunda.
Para governar o Brasil tínhamos dom Pedro, sereno, doce, recatado, sócio do Instituto de França, lendo hebraico, vestindo negro, sem beber, sem fumar, sem ter bastardos. Para um povo policolor, berrante, gente de carnaval, de entrudo, de bailes e lapinhas doidas, de cavalgatas, de pegas de toiro, de eleições a tiro, senão não tem graça, havia um dirigente sisudo, grave, impecável, sem arroubos, com uma falinha de menino manhoso e viciado. Havia uma desproporção esmagadora.
No Senado e na Câmara havia o sopro dos partidos que os políticos namoravam lendo em francês e inglês. A França e a Inglaterra explicavam tudo. Citar um período, uma época, era desculpar uma atitude. Pouco se lhes importava o ambiente crioulo do Rio de Janeiro. Impavam de orgulho ingênuo e platônico na possível comparação entre eles e seus colegas distantes de Paris e Londres. A citação vinha sempre emudecendo o antagonista useiro na mesma arma. Era uma fácil erudição que consolava e auxiliava aqueles homens ilustres. Nas "descidas" ministeriais raro é o senador que deputado que não explique a queda, própria ou dos amigos, recordando um fato igual que se passou sob Walpole, Pitt ou Gladstone.