a iluminasse pela mão dos negros escravos ou pela piedade dos devotos.
Ao mesmo tempo, a partir daquela época, as posturas municipais começaram a defender a rua, dos abusos da casa-grande que se instalara nas cidades com os mesmos modos derramados, quase com as mesmas arrogâncias, da casa de engenho ou de fazenda: fazendo da calçada, picadeiro de lenha, atirando para o meio da rua o bicho morto, o resto de comida, a água servida, às vezes até a sujeira do penico. A própria arquitetura da sobrado se desenvolvera fazendo da rua uma serva: as biqueiras descarregando com toda a força sobre o meio da rua as águas da chuva; as portas e os postigos abrindo para a rua; as janelas servindo para os homens escarrarem na rua, onde também se derramava o sobejo das quartinhas e das bilhas, ou moringues, onde se deixava a água esfriar ao sereno, sobre o peitoril das janelas. Estas, em certos sobrados mais desconfiados das ruas, eram raras no oitão - duas ou três, as outras sendo apenas fingidas, janelas falsas, pintadas na parede imensa.
As posturas dos começos do século XIX são quase todas no sentido de limitar os abusos do particular e da casa e de fixar a importância, a dignidade, os direitos da rua, outrora tão por baixo e tão violados. Tão violados pelos proprietários de terras; tão violados, no Rio de Janeiro, pelos jesuítas, que aqui se fizeram donos de muitos sítios e casas de sítios. Alguns desses sítios compreendidos na sesmaria da cidade e estendidos ou explorados contra o interesse público. O padre Cepeda, em documento célebre, refere-se aos "insignes ladrões que havia neste Colégio" (o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro). Um deles, o "Padre Luiz de Albuquerque que em 24 anos foi Procurador de Causas"... e "tantas terras furtou para a Religião". Era vulgar, entre os mesmos jesuítas - acrescenta a exposição de Cepeda - "que nunca perdia uma demanda porque se via