Recife, no meado do século XIX, os burgueses dos sobrados mais modestos já vêm cear na calçada, aproveitando a luz da lua.
Da habitação rigidamente patriarcal - como foi entre nós a casa-grande de engenho ou mesmo a de sítio - pôde dizer Gustav Schmoller, em página hoje clássica, que a sua arquitetura criara nos homens, costumes, métodos de trabalho, hábitos de conforto. E não é sem razão, segundo o sociólogo alemão, que em história econômica se faz da "economia da casa" o fim da barbaria e o começo de uma cultura mais alta. Como não é sem razão, lembra ainda Schmoller, que os povos civilizados designam ainda hoje toda a forma de exploração e atividade criadora pela palavra que em grego queria dizer casa: economia.
Spengler quase repete Schmoller quando exalta a influência do atrium patriarcal. Quando opõe a influência da casa, com tudo que ela representa de "economia" - e como meio de adaptação do homem ao meio - à influência da raça e à capacidade desta persistir, estatuesca, brônzea e perfeita, dentro de estilos diversos de habitação e de vida e de climas diferentes. E a casa é, na verdade, o centro mais importante de adaptação do homem ao meio. Mesmo diminuída de importância, como nas fases de decadência da economia patriarcal, ou com a economia agrária substituída pela metropolitana, o antigo bloco partido em muitas especializações - residência, igreja, colégio, botica, hospital, hotel, banco - não deixa de influir poderosamente na formação do tipo social.
O brasileiro, pela sua profunda formação patriarcal e pela semipatriarcal, que ainda continua a atuar sobre ele em várias regiões menos asfaltadas, é um tipo social em quem a influência da casa se acusa em traços da maior significação. Gosta da rua, mas a sombra da casa o acompanha. Gosta de mudar de casa, mas ao pobre nada preocupa mais que comprar seu mocambo; e