Sobrados e mucambos

na metade de sangue nórdico em suas veias de híbridos. Argumento perigoso e frouxo. Ao mesmo tempo que reconhece a vantagem do cruzamento - pelo menos entre raças menos distanciadas nos seus característicos somáticos e nas suas especializações psicológicas - dá a Hertz o direito de perguntar com toda a fleuma: "Mas se é verdade que a cultura da Grécia, a de Roma, a da Itália, a da Espanha, a dos eslavos é criação dos elementos nórdicos que entraram na formação desses povos, por que então o começo de todas essas culturas não foi nos centros de origem dos nórdicos - na Escandinávia e no norte da Alemanha? Por que essas regiões só fizeram seguir, em épocas relativamente recentes, os caminhos abertos pelos povos híbridos do sul?"

No Brasil, uma coisa é certa: as regiões de mestiçagem mais intensa se apresentam as mais fecundas em grandes homens. A nossa Virgínia durante a monarquia - a mãe de grande parte dos presidentes de conselho e dos ministros de Estado - foi a Bahia, penetrada não só do melhor sangue que o tráfico negreiro trouxe para a América como da cultura mais alta que se transmitiu da África, ao continente americano. A chamada Atenas brasileira, o Maranhão, foi outra região de mestiçamento intenso, com seus muitos curibocas idealizados ou romantizados em caboclos. O maior deles, Gonçalves Dias. Em contraste com os rio-grandenses-do-sul, mais brancos e tão cheios de radicalismos e de intransigências nas suas atitudes, os homens da região de maior e mais profundo amalgamento de raças, alguns deles mulatos chapados, têm levado para a administração pública em nosso país, para a política, para a diplomacia, para a direção da Igreja Católica, uma sabedoria de contemporização, um senso de oportunidade, um equilíbrio que fazem deles os melhores pacificadores, os melhores bispos, os diplomatas mais finos, os políticos mais eficientes.

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