D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas)

o que ouço. Estou persuadido de que o coração de Vossa Majestade está profundamente afetado com o que nos acontece.

Eu vos escrevo, Senhor, no meio de uma confusão inexplicável. As populações das imediações do Oise se escondem, tomadas de pânico; a aldeia está cheia de camponeses desorientados, homens, mulheres, crianças, bois, carneiros, carroças carregadas de móveis e de aves domésticas, de colchões, de tudo o que se possa imaginar.(12) Nota do Autor Os habitantes de Trye portam-se bem; todas as casas estão cheias desses infelizes. Há um tal fazendeiro que hospeda umas 20 pessoas e 25 a 30 cabeças de gado. Uma das causas desse pânico é o abandono de muitas comarcas por seus respectivos prefeitos que se escaparam sem avisar ninguém. Vendo-se abandonados, os camponeses julgaram-se perdidos e deixaram tudo. Morre gente pelas ruas. Uma mulher velha foi enterrada anteontem no canto de um campo. Do outro lado de Trye, na Normandia, outras correntes de fugitivos produzem um acúmulo de gente sem nome. Eu contenho com esforço, e multiplicando as exportações, todos os que chegam aqui para os impedir de se jogar nesse turbilhão que trará uma miséria indizível se continuarem a andar. Os animais morrerão de cansaço, os homens não terão mais nem provisões nem recursos. Todos me atendem e tenho a honra de ver triplicada no momento a população de minha comarca. Mas não é sem custo que consigo segurar meu próprio povo. Corre o boato de que as colunas prussianas dirigem-se em direção do Rouen para apoderarem-se do vale do rio Sena e ameaçar o Havre. Se isto acontecer, a onda armada rolará sobre nós e é isso que amedronta o nosso país. Vejo-me obrigado a falar todo o dia para acalmar o povo, para atenuar as notícias tristes, e para exagerar os boatos consoladores e repetir

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