D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas)

O conde de Gobineau, "conselheiro geral" do "Oise", fica no meio das populações de sua região ocupada pelo invasor, e fez o mais que pôde para tranquilizar e ajudar a essa gente. Seu pensamento íntimo desmente e muito seus atos. Com efeito, ele considera a derrota da França como um castigo e o triunfo da Prússia como uma desforra legítima da raça ariana sobre uma raça latina degenerada. Nessa época, ele chega mesmo a escrever um artigo nesse sentido, artigo esse que ele não ousara publicar, e que só foi conhecido graças a seu biógrafo alemão, Ludwig Schemann, e somente em 1918. (O que aconteceu em França em 1870, nos Nachgelassene Schriften des Grafen Gobineau, 1918). Importantes trechos desse trabalho foram publicados na revista Europe (15 de fevereiro de 1923). O editor alemão não tem razão de se servir, em plena guerra, deste escrito como argumento contra as raças latinas. Pois como disse o Sr. Afrânio Peixoto na Academia Brasileira de Letras: "Parece que em 1914-1918 não foram os arianos, mas sim os latinos, os vitoriosos. Gobineau foi uma antecipação invertida dos Spengler e Kaiserling: apenas matou a raça vencida em 1870, enquanto estes mataram o Ocidente, porque não venceram no Marne".

Assim, se Gobineau caluniou o Brasil e os brasileiros, ele não caluniou menos seus próprios compatriotas. Sua teoria, tão falsa, das Raças conduziu o honesto gentil homem a injustiças indignas de si.

Não temos as cartas endereçadas, nessa época, por D. Pedro II ao conde de Gobineau.

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