D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas)

qualquer; um decreto recente dissolveu as Municipalidades, os Conselhos de distritos e os Conselhos gerais e incumbe os prefeitos de providenciar a tudo por meio de delegações. O resultado é uma anarquia ilimitada e, se Paris sucumbir, está claro que nem por isso teremos a paz. Onde pois a conclusão? Quando poderemos esperar sair das ruínas e começar a reconstruir o que ficou por terra? Eis, eu creio, o que ninguém pode dizer, mas é evidente que, se a destruição material é grande, o desastre moral é ilimitado. O Império espalhou o verme por toda parte e as almas carcomidas estão arruinadas. Uma das cousas curiosas a observar, é que o que nos conduz à hora atual, por falta de um pessoal diferente, são os subalternos do Império. A delegação dos Negócios Estrangeiros é composta de dois ou três dos ínfimos de há cinco meses. Essa gente quis absolutamente me reenviar ao Rio. Se aí eu pudesse viver, aí teria ficado. Além do que não sei de que maneira representaria atualmente a França, junto de Vossa Majestade. Suponho que o Imperador é bastante bom para querer ver-me representar um tal personagem. Não que eu tivesse má vontade em cumprir uma missão ativa para a defesa nacional; mas voltar ao Brasil não teria nada de análogo, isto seria uma mera sinecura e a representação da República, - o que não é de meu jeito.(2) Nota do Autor Fiquei pois aqui. Os batalhões da guarda nacional que eu tinha organizado não quiseram bater-se; para as companhias de voluntários que eu quis formar, apresentaram-se 15 homens, dos quais, um por um, veio no dia seguinte dizer-me que sua assinatura nada queria dizer e pedia-me que eu não contasse com ele. Procurei fazer também alistamentos; encontrei quatro bêbedos dos quais desembaracei a aldeia; é um feliz resultado, mas bem fraco. Em todo caso, não me lastimo. Fui mais feliz que meu

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