progresso trouxe os germes da temerosa síndrome, que infeccionou as mais belas conquistas da civilização. O mal, por conseguinte, não veio do progresso em si, mas da maneira como se desenvolveu. O cristianismo almejava socorrer e inspirar consciências, sem intervir no campo material. Foi contra a sua intenção que nele influiu, motivo que levou muitos dos atuais e mais eminentes espíritos do catolicismo, como certos dominicanos, a aspirar pela volta da igreja aos primórdios cristãos, quando a crença se aninhava, pura e singela, na existência dos fiéis. A seu ver, o cristianismo ainda possui forças bastantes para resistir à onda de dissolução moral que ameaça a humanidade, e reconduzi-la ao remansoso caminho do bem.
Outrora, fora submersa a igreja pela invasão dos bárbaros germânicos, que desciam rumo ao Mediterrâneo. Parecia destruída a doutrina de piedade e amor, abafada a voz dos pregadores pelo retinir das armas, dispersado para todo o sempre o seu rebanho, e, no entanto, a maré foi contida, as hordas iconoclastas lentamente assimiladas, raiando depois da tormenta a aurora da Renascença. Os manuscritos da idade clássica preservados pelas ordens religiosas iluminaram a erudição e a obra dos pensadores da igreja, dilatando sob o signo da cruz a civilização do ocidente. De começo, a sua marcha encontrou a hostilidade da dissidência maometana e a barreira das antiquíssimas religiões asiáticas, as quais lhe delimitaram a expansão à zona habitada pelo homem branco europeu. Mas, ao passo que seu principal adversário, o Islam, coerdeiro da idade clássica, se deixava assoberbar por esterilizante fanatismo, lançava-se a cristandade pelos mares livres, à procura do Preste João e dos povos mencionados por Plínio, o Antigo. Windelband, na sua História da Filosofia, perfilha com acerto a opinião dos