A marcha da civilização brasileira, no segundo império, se caracteriza pela ascensão e pela vagarosa formação da classe média, com exclusão da nobreza agrária, e pela dissociação da última camada na escala humana, dissociação que se inicia a partir da guerra do Paraguai e que se ultima na abolição. O passar dos anos vai acelerar a transmutação: circulação de elites, substituindo-se a nobreza latifundiária pela classe média dos letrados, na urbanização da vida brasileira. E, também, pelo contraste curioso que marca, em cada etapa para a ascensão do elemento servil, uma etapa na desagregação do império.
Se esse era o estado da sociedade, com os seus degraus bem nítidos, com a sua hierarquia constituída, e se o impulso nativista, alicerçado na consciência da autonomia econômica, estava iniciado, quais eram as diretrizes do pensamento brasileiro, para consubstanciar numa ideologia precisa ou num postulado político, essa ânsia de emancipação?
Na forma política esses ideais deviam ser, forçosamente, republicanos. A aversão era contra o dominador ultramarino, objetivado numa monarquia de direito divino. Desejar a emancipação com a monarquia era admitir a continuação dos laços que prendiam a colônia à metrópole. Monarquia só poderia existir com o advento de um dos herdeiros da coroa lusitana. E isso seria, quando muito, um afrouxamento de domínio, mas não um divórcio absoluto, como o estava a exigir a necessidade brasileira de expansão livre. É por isso que, no decorrer de todos os motins e de todas as subversões contra o domínio português, a ideia republicana aparece. Ela seria a sanção do divórcio, – a própria característica dele.
O advento da corte portuguesa devia trazer um intervalo na consolidação dessa ideologia. Note-se, entretanto,