Panorama do Segundo Império

pela fúria das cortes lisboetas, D. João VI viu as consequências. Daí o conselho célebre.

A retirada, da corte portuguesa trazia ao Brasil uma queda brusca, entretanto, já pelo lado político, com as suas novas fases de desenvolvimento, já pelo econômico. A volta a Portugal obedeceu aos mesmos princípios que a vinda para o Brasil. Foi feita com um grande deslocamento de riqueza. Recaía a colônia na situação anterior, mercê dessa transferência de bens e, mais do que isso, pelas novas disposições que os legisladores tumultuários de Lisboa queriam impor à fonte inesgotável de todos os recursos: o comércio brasileiro. A desproporção entre a riqueza pública e a riqueza particular voltava a ser enorme. Enquanto esta estava constituída, sólida e desenvolvida pela liberdade comercial, sofrendo os abalos da descontinuidade de intercâmbio com alguma capacidade de reação, – aquela se encontrava no depauperamento mais fundo.

Esta é a situação que Pedro I encontra e contra a qual luta inutilmente. Quando as cortes metropolitanas exigem a submissão, que era a volta ao passado, já não há outra solução senão romper. A fortuna particular não aceitaria jamais o regresso à forma antiga, a taxação bárbara, o entreposto ultramarino. As gradações da emancipação, entretanto, com o colapso econômico, fariam o império entrar na fase convulsa dos organismos empobrecidos. Quando a independência é proclamada, – já com a monarquia, – mercê da transição, – o Brasil não a recebe comovido e pronto a prestigiá-la mas sacudido pelo germe da revolta, da inconformação e da ruína. O regente já tivera a prova disso quando o norte lhe negara o direito de governá-lo. Ia compreender, agora, que seria impossível

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