o poder aquisitivo do povo havia descido ao último nível.
Além de tudo isso, que representa a parte de gravame ligada ao caráter da propriedade, havia outra face, no caso. A da penúria de braços para a lavoura. Naturalmente que, não tendo sido resolvida a questão da propriedade, mantida esta imutável, apoiada nos privilégios, impedindo a dinâmica social e conservando-se na ordem estática, de nada adiantariam os braços. Essa crise de braços é, pois, não paralela, mas consequente. Está intimamente relacionada ao caráter da propriedade.
A crise de braços se ligava a dois fatos distintos, que somavam-se nos resultados. O primeiro deles era o recrutamento. Fazia-se a torto e a direito. Arrancava àquela lavoura insipiente e onerada os braços que a deviam amparar e desenvolver. O segundo deles, muitíssimo mais grave e mais importante, era o das emigrações para o Brasil.
Nem podia deixar de ser assim, em vista do contraste das condições. Portugal era o vínculo, era o arrendamento oneroso, eram os tributos, era o recrutamento. O Brasil representava um solo livre, todas as facilidades, todas as perspectivas, as mais risonhas. As grandes emigrações, avolumadas consideravelmente na época da mineração e que haviam dado lugar a medidas, por parte da metrópole, que atenuassem os seus efeitos, impedindo mesmo o embarque dos seus filhos para a colônia, – as grandes emigrações, impelidas agora pelas condições vis do trabalho nas terras lusitanas, continuavam, sem cessar, e importavam numa outra origem da decadência do país e do dessoramento vertiginoso das suas energias, das suas forças morais, da sua riqueza.