Essa inaptidão do império em se defender, essa apatia do povo ao assistir ao espetáculo, essa transição pacífica, a falta de forças da minoria adventícia, indicam que o soberbo edifício imperial estava suportado por alicerces precários. A incapacidade de reação, – característica dos organismos anemiados, – traça o quadro do ocaso imperial.
O regime tinha, entretanto, quase 70 anos de vigência. Mais do que isso, tinha uma tradição. Quanto se pode falar em tradição na nossa terra. Não surgira do nada. Mas proviera dum prolongamento da corte portuguesa. Trazia, atrás de si; os decênios da dinastia lusitana. No seu domínio atravessara o Brasil momentos decisivos. Fortalecera-se da crise de pós-independência. Constituíram a sua unidade. Desenvolvera o seu comércio. Expandira a sua lavoura. Enriquecera o seu patrimônio econômico.
Ele trazia, entretanto, em si mesmo, o germe da destruição. Vinculara-se aos males mais precisos e mais reais da terra imensa. Não podendo separar a ideia da federação da de separação, atrofiara a sua organização política numa áspera centralização. Aceitara, em seu seio, o morbos da abolição e a sua passividade ante o problema mais contribuiu para que a solução dele se erigisse numa ameaça e numa brecha do edifício político vigente.
Os homens julgam, quase sempre, pelas aparências. Isso acontece, também, em relação aos acontecimentos políticos, sociais e gerais. Não podendo ver os motivos profundos das alterações de superfície, apegam-se às mudanças desta e ajuízam pelos aspectos que ela lhes apresenta. Nada diz mais rigorosamente da veracidade dessa afirmação do que as esperanças que sacodem os corações populares ante as mutações aparentes