Panorama do Segundo Império

do edifício político, da norma das instituições. É frequente e generalizado assistirmos ou termos conhecimento das novas esperanças que enchem o espírito das massas populares, ante a mudança da pessoa que ocupa a direção dos negócios públicos, ante o sucesso de algum motim ou quartelada mal conduzida, ante o aparecimento de algum messias eleitoral, que prometa conduzir os destinos do país a novos caminhos. Largas e amplas perspectivas abrem-se à essa credulidade infantil.

Com as razões fundas, positivas, objetivas e reais que movem e impulsionam as organizações políticas, puras emanações do estado econômico e social de um povo, nem mesmo os mais argutos se preocupam. Elas ficam relegadas, segundo a nossa displicência, a alguns iniciados.

É fácil de explicar como essa inaptidão das massas, – fato vulgar e comum, – em ver a causa real das coisas, mormente na confusão dos instantes decisivos, provoca um divórcio absoluto entre as instituições vigentes, nas suas transformações, e o efeito que elas possam causar – nas partes dominadas da opinião. Aquilo que as impressiona é o figurino, a aparência. As modificações íntimas, as que realmente afetam o cerne das organizações políticas, essas, por mais fundas e mais lentas nos seus efeitos, não têm a repercussão imediata que seria de esperar. Elas agem com mais latitude e, por isso mesmo, com muito mais lentidão. Assim, as instituições e os figurinos políticos que não alterassem o fundo das coisas: que não taxassem a lavoura canavieira a ponto de estancá-la, não obrigassem o pagamento de salário aos escravos, não alterassem as normas de transmissão das propriedades, não modificassem as relações comerciais e agrárias, – quaisquer que fossem as suas aparências, não podiam chegar a

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