Panorama do Segundo Império

subverter o edifício social mas, nas suas promessas e nos seus princípios, ofereciam larga margem ao aparecimento dessas esperanças imprecisas que, de quando em quando, passam pelo espírito coletivo, na sua ânsia de melhorias e de adiantamento.

Isso vem a propósito das nossas conclusões em afirmar que o império não tinha alicerces porque não tinha ideologia nítida a ampará-lo e o advento da República só foi possível quando o partido que a sustentava, esposando uma das coisas que abriram os alicerces da instituição dominante, a abolição, erguia a bandeira da federação que, essa sim, alteraria as relações econômicas da sociedade brasileira e afetava profundamente as instituições. Tal alteração, porém, e tais mutações, seriam possíveis com a continuação do figurino político monárquico se à monarquia fosse dado adaptar-se à evolução do povo brasileiro. A alteração em si, de monarquia para república, não modificava coisa alguma. Mas a transformação de centralização para federação modificava em muito.

O regime monárquico, no Brasil, só atravessou um momento crítico, um momento em que a sua instituição era adversa aos ideais brasileiros, pelas ameaças que ele trazia: quando do seu aparecimento. Vimos como o advento da corte portuguesa, retardando e atenuando o choque da separação, ia torná-lo possível com a monarquia. Depois, com mais de meio século de domínio, constituído e radicado no espírito da população, o regime só poderia ruir se perdesse o seu caráter dinâmico para tomar um caráter estático, isto é, vincular-se, rigorosamente, a certos postulados, fazendo deles dogmas precisos, fora dos quais só a sua própria ruína era possível.

Panorama do Segundo Império - Página 372 - Thumb Visualização
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