Panorama do Segundo Império

Na sua estática, ante os grandes problemas que, por esses 70 anos, foram surgindo, na sua passividade em permitir, dentro do seu organismo, forças que o dissociassem na sua incapacidade de reação ante o esbarrão do motim militar, – estava espelhada a degradação do regime. Ele esposara ou permitira tudo o que atentava contra si mesmo. Trazia, dentro em si, os germes que o haviam de destruir.

Não nos espanta pois, que os próprios responsáveis pelos destinos do país e do regime, que encarnavam olhassem o advento da República como um fato que se havia de consumar um dia. Esse conformismo ante a derrocada das instituições explica como o divórcio entre o império e a nação já se pronunciara tão nítido, tão palpável, que os políticos mais eminentes encaravam o advento de outra ordem de coisas com fato natural e lógico.

Poderá parecer estranho que sendo o partido republicano uma minoria, mesmo no auge da propaganda e não tendo apoio nas forças vivas do país, nem uma ideologia nítida, feita ao calor dos debates e dos reveses, ele fosse chamado a tomar as rédeas do governo, chamado a dar forma às instituições, a moldar o novo regime. E mais espanta ainda que os políticos conservadores e liberais se conformassem com a próxima mutação ainda que ela importasse na passagem do poder a essa minoria que os combatia.

O império estava condenado, entretanto. O seu fim estava próximo. E a consciência disso é tão funda, no espírito dos seus próprios servidores, que não temem a nova ordem de cousas. Acham que ela se processará na sequência natural dos acontecimentos. Terá de vir. Terá de ser.

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