Panorama do Segundo Império

Singular fatalismo esse que é o índice preciso da fraqueza das instituições e da sua consequente incapacidade de reação. Depois dele, a República. Porque era a forma natural de transição. Porque havia sido essa a marcha em outras terras. Porque, mais forte do que o partido republicano, existia a ideia de que o fim das monarquias era o princípio das repúblicas. O idealismo revolucionário de 89, o seu domínio nos Estados Unidos da América do Norte, devia penetrar a consciência dos brasileiros cultos como uma necessidade impossível de ser atalhada ou vencida.

Tornando-se herdeiro natural das instituições, não restava mais ao partido republicano do que franquear o edifício em ruínas, aproveitar as suas fraquezas, aguardar o momento propício e, vinculando-se a alguma outra força que aumentasse a sua, dar o golpe decisivo, ultimando uma situação de transição cujo prolongamento, não favorecendo a monarquia enfraquecia as minguadas forças duma agremiação que era apontada, pelos próprios adversários, como destinada a receber os restos do regime.

Uma a uma, as grandes forças vivas do país divorciavam-se do império. Não corriam todas a alistar-se nas hostes adversárias, entretanto. Pior do que isso. Refugiavam-se numa indiferença pela sorte do regime vigente que era, mais do que sintomática, denunciadora do abismo que se cavava em torno das instituições. No momento decisivo, o império não contou com amparo algum.

Para ilustrar melhor o vácuo que se fez em torno do regime, basta o espetáculo que se apresentou, nos seus últimos dias. Assistia-se entre adversários dele e seus partidários, a um fato curioso. Uma só coisa os impedia de dar o golpe de misericórdia: a afeição ao

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