Panorama do Segundo Império

Quem, hoje lê o que se escreve sobre uma pretendida campanha republicana, é levado a crer numa arregimentação agitada de partidários, em entreveros formidáveis onde as forças se mediam, em lutas eleitorais duma violência e dum vigor extraordinários. Mas isso não aconteceu. Isso não teve lugar. Isso não se realizou. Pelo simples motivo de que não era preciso. Pelo simples motivo de que a história da mina das instituições imperiais é uma longa página de recuos, de transigências e de capitulações brancas. Os republicanos não venceram. Receberam aquilo que se lhes entregava. Colocados no flanco dos acontecimentos contentaram-se em ser os herdeiros naturais da direção do país, quando um organismo anemiado e caquético cessou de existir.

A história do advento do regime republicano, no nosso país, não é, como devia ser, e como parece a muitos, a longa história duma série de etapas no sentido da conquista, mas uma longa sucessão de abdicações e de recuos, de entregas passivas e de conformismos anêmicos.

As oscilações da força republicana não foram, em todo o tempo, mais do que reflexos das oscilações da fraqueza imperial.

Quando D. Pedro I, com a partida de D. João VI, chamado a defender o seu trono, nas terras lusitanas, com a sua presença indispensável e exigida pelas cortes tumultuárias, – é feito regente do Brasil, um panorama convulso e agitado se lhe depara. Todo o norte do país se recusa a aceitá-lo como autoridade. Províncias inteiras e regiões inteiras preferiam depender das Cortes lisboetas a depender do príncipe que governava no Rio de Janeiro. D. Pedro I havia de contar isso, numa carta ao seu régio pai, em que se confessava relegado

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