Panorama do Segundo Império

EXÍLIO DE UM HOMEM, FIM DUM REGIME

Raul Pompéia traçou, numa página inesquecível, a cena do embarque da família imperial. No silêncio, na paz e na solidão, os membros da dinastia bragantina deixaram a terra brasileira. O vírus do conformismo, – sintoma das organizações enfraquecidas, – invadira-os. Se houve lágrimas, não houve revoltas. Calavam-se os amargores. Aquele silêncio, aquela treva, aquela solidão, aquela paz de fuga tresnoitada, marcavam decisivamente a ruptura entre o regime e o país.

Passado o entusiasmo dos primeiros momentos, ultimada a azáfama da organização ministerial, ocorrido tão subitamente, – se não houve sossego e trabalho, se não houve confiança, não houve, também, saudade nem remorso. Lastimou-se o abalo que a deposição pudesse ter causado ao imperador. Quase que o íntimo desejo era que aquilo acontecesse sem ele saber, de forma que a sua figura ficasse indene. Desejava-se mesmo, antes da conspiração, que a república já o não encontrasse vivo.

Essa piedade, – que não era fé, nem amor, nem dedicação, – cimentava-se na imagem que se havia criado no espírito popular de que aquele homem era bom, era amigo, era honesto. Ele o era, efetivamente.

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