Nessa numerosa grei de rimadores se encontrará facilmente o tradutor destes versos."
Essa a apresentação do autor de um opúsculo intitulado Idades e Aventuras. Publicado sem lugar nem data, só a tradição de família revelou a custo o tradutor que "guardando o seu próprio incógnito, não quer trair o dos outros."
Prudente e comedido, Carvalho Moreira oferece na tradução desses versos a malícia de que era capaz o humor de seu espírito sarcástico. Não será injustiça dizer que aqui uma vez mais a tradução superou o original.
Três composições de extensão diversa aparecem nas Idades e Aventuras. Depois das "Idades do homem" vêm as "Idades da Mulher", finalizando com "Os infortunios de Ema".
De fundo sensual, o seu erotismo está mais em quem lê do que na leitura.
O enjeitado da musa, após muitas cautelas, começa enfim:
AS IDADES DO HOMEM
"O Deosinho que tanto se ha glosado,
E que noite e dia está sempre a bulir,
É botão de rosa em nossa infancia,
Uma flôr a bom fruto produzir;
Um passarinho virgem de plumagem
Que ele espera para os vôos alargar;
Brinquinho que sacodem as crianças
Assobio em que amor ha de assoprar.
Aos dez anos deixando a sua concha
Este bichinho é linda borboleta,
Que se mexe, se agita, e que pulula,
É uma enguia, ou mesmo uma carpeta.
É um raminho em que circula a seiva
Para em breve do amor ser enxertado,
Embolo que se abaixa e se levanta,
Um fanfarrão, brejeiro rematado.